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Exposição | SOMETHING HAS GOT TO GIVE

16 de Abril a 14 de Maio de 2021

Vista da Exposição. Fotografia: Bruno Lopes



EXPOSIÇÃO COLECTIVA:

Beatriz Coelho, Diana Cerezino, Francisco Correia, Joana Siquenique, Juan Crespo, Ricardo Sousa, Rita Pequeno e Sebastião Castelo Lopes


TEXTO:

Susana Rocha


Duas forças em oposição, em giro, em espiral... talvez em dança.... algo tem que ceder. Movimentos contrários de confronto ou de mútua sedução?

Cedências, cadências, enganos, desvios... da razão? Do olhar? Da vida como um jogo que se descobre em cada lançar de dados? Do futuro.

Barreias, estímulos. Distâncias. Estribos, esporins. Desequilíbrios. Internos, externos? Cá dentro? Talvez não. Claro que sim.

Luz. Escuridão. Brilhos que cegam quando se procura demais. Quando te procuro demais? Num bolso? Quando me encontro. Assim entre as costelas.

As minhas pernas dançam no escuro. Não tenho pernas. Não tenho corpo. Braços, então. Com ervas que me saem de dentro em direção ao chão.


A exposição SOMETHING HAS GOT TO GIVE pode parecer uma atraente e poética distopia. Aí reside o centro do seu paradoxo e, simultaneamente, a sua razão.

No final de 2020 foi lançada uma Open Call que pretendia, face à súbita disponibilidade deste espaço expositivo, constituir-se como um pequeno apoio a artistas que lidavam com as repercussões de um primeiro confinamento, aos sucessivos cancelamentos de exposições, e aos desafios originados por uma pandemia que por cá continua. Não sabíamos então que SOMETHING HAS GOT TO GIVE seria adiada por um segundo fechar de portas que originaria uma escalada do grau de dificuldade de todos os desafios já antes esboçados.

Não sendo este um conjunto de obras que pretenda alimentar uma reflexão sobre a pandemia e as suas consequências, existe certamente a perceção de uma linha discursiva que se debruça sobre os desafios do presente, sob a égide de uma inquietação latente.

Por entre as contrastantes linguagens plásticas, intui-se uma outra, conceptualmente unificadora, que sugere a interioridade como um lugar inóspito, desafiador, idiossincrático... Em “Black Sun”, Julia Kristeva apresentava a questão: “Is Mood a Language?”1 (É o humor/estado de espírito uma linguagem?). Uma questão também agora oportuna.

As relações que em seguida viria a traçar, ficam à margem do universo que aqui se cria. Mas não totalmente. Resgata-se a melancolia – esse humor de linguagem própria, possivelmente “não representável”2, mas que ressoa como um tecido estendido entre as obras em exposição.

Fragmentos de um território estrangeiro que, tantas vezes não é senão o da nossa reatividade a novas vivências, conceções e modos de sentir, são obras que comportam, para além do pressentimento melancólico e, como indica o título da exposição, a necessidade de uma tensão.

SOMETHING HAS GOT TO GIVE. Algo tem que ceder. Mas o quê?

Talvez o rigor de um jogo de perceção que desperta associações inconscientes e impulsos de rememoração, como parece acontecer com a pintura de Diana Cerezino. Ou então, talvez a cedência resida na adoção de metáforas semióticas, como vemos na obra de Beatriz Coelho. A iminência de uma cedência está ainda sugerida nos jogos de equilíbrio habilmente orquestrados tanto por Rita Pequeno - num claro contraste entre forças - quanto por Joana Siquenique - que nos sugere um potencial colapso originado no excesso.

A depuração exponenciada ao estado de ruína - como uma concessão que nos permite sobreviver e alcançar o futuro - subentende-se também na pintura de Francisco Correia, numa visão inesperadamente poética, que encontra eco na imagem/construção acutilante criada por Sebastião Castelo Lopes.




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